A nossa casa era feita de corredores azuis.
Ao centro uma fonte, robusta e fértil,
como uma folha metálica de Gaudí.
Como era sublime, aquela nossa
escadaria em corte de rebuçado.
Como a subi de um golpe só, os
pés quebrando-se em cada degrau,
cega às paredes pintadas de barba azul.
Como passei a carregar nas mãos
todas as nuvens dobadas num novelo escuro,
os cabelos caídos sobre as entranhas
dos caminhos. A nossa casa era feita
de árvores mudas, a minha respiração
cortada à faca pela agudeza
de uma concha que cai
seca no chão
num baque sólido de pássaro abatido.
A nossa casa era feita de corredores azuis.
A porta já não se abre às constelações.
Ouvem-se agora, cada vez mais perto,
os passos da noite (fria), contados
pelos minutos de uma solidão óssea.
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