terça-feira, 1 de fevereiro de 2011


Hoje às dez horas pinto as mãos. De todas as cores, não de nenhuma. Vou lentamente afogá-las num tinteiro. Primeiro os dedos, depois as covas, as linhas e os montes, até ao pulso. Até ao osso. Frio. Há-de ser fria, a tinta, e frias, as mãos, pois deixarão de ser mãos de massa e de flanela. Hão-de ser mãos de corte. Mãos de faca. Não mais roubadas às horas de fremente urdidura. Serão invisíveis de tão visíveis e sonoras. Indistintas das paredes, do silêncio, das gerberas nessa jarra, do negrume seco da janela. De ti. Da tua pele. Todas as cores, não de nenhuma. E vão gritar, as minhas mãos. E vão pingar, estalactites cor vertigem violeta.
Hoje. De todas as cores. 

Foto: Hernan Marin

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