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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

E tudo se orientava pela sombra potencial do passado - uma sombra de meio-dia, que você não vê, mas sabe se guardar em segredo nas coisas, pronta para começar a vazar pelo chão assim que o planeta virar um pouquinho de perfil.

Adriana Lisboa, Azul-Corvo 

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Só porque algum nome lhe havíamos de dar

. . . a nós o que nos ilude é esta linha de vivos em que estamos, que avança para isso a que chamamos futuro só porque algum nome lhe havíamos de dar, colhendo dele incessantemente os novos seres, deixando para trás incessantemente os seres velhos a que tivemos de dar o nome de mortos para que não saiam do passado.

José Saramago, A jangada de pedra

terça-feira, 17 de maio de 2011


If the past is an irreparable fact, the present can be a revisable fiction.


Harold Schweizer, Suffering and the Remedy of Art 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Dextera Domini

Aos domingos abriam as gargantas:
trocavam os corvos pelas pombas (ex-
piação cromática da culpa) e ficava.
Uma penumbra sobre as cabeças rendadas,
lembrança do quarto aferventado pela
carne. Eram acres, os santos encalhados
entre as abóbadas e o lambril, de cara
tépida e rugosa como um planeta.
Ela quieta ao fundo, na ponta esquerda
do banco mais canhoto. Um círio roxo.
Apenas os sapatos de verniz bicudo
se retorciam com os beijos das avós.
Cheiravam a sal e a minério, à negra
numismática que as encerrava numa
pálpebra de chumbo. E cantava.
Que bem passava por menina
de coro, por ser mais fácil
engolir bandos de anjos
do que implodir ave-marias.
Rezar em línguas.
A sua cabeça
numa bandeja de prata.
  

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

En lo dicho, el proceso de lo dicho

Huyamos durante
Las noches enteras, mi amor…

las voces.
En otro lugar – todo irá bien
Sólo para que la mitad mía – la elijan amor mío, las noches enteras — .

El verano tiene todo su músculo recordándote.

No hay ningún lugar que no sea tu centro,
En lo dicho, el proceso de lo dicho, tu muerte en el medio como un caballo.


J. M. Antolín, “El Caballo”

(Este poema é dolorosamente belo…)

domingo, 28 de novembro de 2010

Nepenthés

E havia também aquelas noites em espiral, manchadas pela tua memória enquanto ponto de fuga encerrado atrás das portas – fino, redondo, luzidio.
Nessas noites, voltava a casa sozinha num corpo dilatado e esponjoso, infinitamente capaz de absorver ruas e árvores.
Por isso eu era ali, naquele momento, toda a ausência das folhas nos ramos, a linha demasiadamente fria da estrada, a casa sem tecto do meu avô.
Era também a memória que tinha de ti, e a chave do carro e o carro que conduzia, de espanto, contra a narrativa proibida do teu nome.