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quinta-feira, 24 de maio de 2012


a figura parece
uma gota
em cada instante
a gota está
numa sequência de imagens
cair de uma estalactite
em cada instante
a gota está
numa posição que compensa
o equilíbrio dos anjos
em cada instante
a gota compensa
a tensão superficial
até que esta
se desprende
e

“O ponto onde se juntam os vincos é uma singularidade que, por ser uma estrutura musculosa, facilita a sua dispersão pelo vento. Excede o número máximo de singularidades. Deforma a figura.”

a gota é
uma superfície
de revolução

domingo, 19 de fevereiro de 2012

No canto dos olhos

encontrar uma facilidade
na música. as árvores.
homem. mãe. cavalo.
é assim que eles pensam:
os nossos olhos
moem carne.
é preciso o poema
no canto dos olhos.
não é indispensável.
― à janela
uma calçada de açucenas 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Shadow


Suzy Lee, Shadow (2010)

domingo, 15 de janeiro de 2012

A nossa casa

A nossa casa era feita de corredores azuis.
Ao centro uma fonte, robusta e fértil,
como uma folha metálica de Gaudí.
Como era sublime, aquela nossa
escadaria em corte de rebuçado.
Como a subi de um golpe só, os
pés quebrando-se em cada degrau,
cega às paredes pintadas de barba azul.
Como passei a carregar nas mãos
todas as nuvens dobadas num novelo escuro,
os cabelos caídos sobre as entranhas
dos caminhos. A nossa casa era feita 
de árvores mudas, a minha respiração
cortada à faca pela agudeza
de uma concha que cai 
seca no chão
num baque sólido de pássaro abatido.
A nossa casa era feita de corredores azuis.
A porta já não se abre às constelações.
Ouvem-se agora, cada vez mais perto,
os passos da noite (fria), contados
pelos minutos de uma solidão óssea.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Imitate the seamless heavens, lie
forehead lost in deepest dirt. My ear
is to your breast, I hear the grass
grow words. Its lips are yours, moving.

Tom Mandel, "Poem"

domingo, 6 de fevereiro de 2011

As palavras aproximam (o silêncio ainda mais...)


Amando muito muito
ficamos sem palavras


Ana Hatherly, "As palavras aproximam"

Foto: Lukasz Wierzbowski

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

fugiram-me um dia
os braços até ti
onde ficámos
deitados sobre a tarde
em que todas as lentidões
são bruscas apneias

as nossas mãos de barro
derreteram-se em cristalinas
placas tectónicas, a fingir
pássaros num desvio alado

ouves? somos nós
aqueles que trauteiam oceanos
enquanto falam
sobre sinos e visões periféricas
ao menos

fugiram-me um dia
os braços até ti
onde ficámos
suspensos
sobre um chapéu de criança
soprado ao delírio do vento

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Quem diria que hoje serias
bloco de grés sentado
que frágil desassossega
durante a tarde
maquinalmente
a jugular distendida
à espera
de rubras papoilas cadentes