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quinta-feira, 24 de maio de 2012

E depois do FMI, Troikas, et al. (?)

"When the water has receded most things have lost their form. They lean in the direction the current went. Mud covers them."


William Carlos Williams, Paterson

quinta-feira, 29 de março de 2012

One Kind of Terror: A Love Poem

. . . 
I’m the sole author of nothing
the book moves from field to field


of testimony      recording
how the wounded teach each other 
. . . 


Adrienne Rich (1929 - 2012)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Coco Chanel & Igor Stravinsky (& Katarina)



Katarina é a tradição. Os seus vestidos carregam a memória de uma Rússia czarista e faustosa cujo orgulho espreita por entre os xailes garridos que pendura nas paredes da casa de Mlle. Chanel, desafiando-lhe(s) a frieza minimalista.
Katarina surge-nos fraca e macilenta, consumida pela tuberculose e pela relação adúltera entre Igor e Chanel que desponta, sem qualquer pudor, à sua frente. Vemo-la definhar lentamente, sob o peso da sua doença e da sua dor, tão distante da mulher-espada cuja criatividade a torna tão tentadoramente compatível com Igor.
O resultado deste duelo – entre Chanel, esguia e fulminante, e Katarina, tísica e esbranquiçada – é no entanto surpreendente. Recusando-lhe os presentes e não se deixando coleccionar, Katarina e o seu silêncio mais não fazem do que desafiar o poder que Chanel julga ter. Ainda assim, é a dignidade com que suporta o fascínio mútuo entre Igor e Chanel que faz de Katarina a verdadeira vencedora. Seria tão simples colocá-la na margem e assistir, sem peias, àquela união cósmica entre criadores colossais, mas a sua serena resistência dificulta a simpatia que normalmente se nutre pelos amores ilícitos. Mais do que um entrave, Katarina é um desassossego.
Ainda que Chanel se declare imune à doença que Igor provocou na sua esposa, é ela quem no final esmorece ao som da memória de um amor que nunca o chegou a ser. Katarina já lá não está, mas continua ali em contraponto: ambas independentes, de forma desigual, ambas fortes, em diferentes frentes, ambas simultaneamente consumidas e fortalecidas pela dependência de Igor.

Jan Kounen, Coco Chanel & Igor Stravinsky (2009)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

“A minha casa tinha um segredo escondido no fundo do coração”


Bem sei que a culpa é minha. Primeiro construo casas, depois dedico-me a decorá-las e a fazer delas casas, apenas para depois as abandonar. Ainda por cima, vou-me embora e deixo portas e janelas escancaradas, tudo à mostra à mão de semear. Nada de especial valor, no entanto. Um candeeiro partido. Um livro velho. Uma chave enferrujada. Só minudências e insignificâncias, mas que alguém leva para o aconchego da sua casa habitada e que, à luz de uma surpreendente alquimia, consegue transfigurar este meu espólio demente num tesouro cósmico refulgente.
Para mim, há-de ser sempre um candeeiro, um livro, e uma chave, ainda por cima quebrados e comidos pelo tempo. Por me terem outrora habitado (durante um dia, talvez ainda agora), estão todavia inevitavelmente dentro de mim, tal como acontece com todas as coisas que nos entram pelas fissuras do corpo – segredos escondidos no fundo do coração. Nada disto é meu, mas apenas eu conheço a história do candeeiro que se partiu, só eu sei do cheiro do livro quando o folheei pela primeira vez, ou do brilho que a chave tinha antigamente – e que bem abria ela portas e janelas.
Com o tempo, aprendemos a entrar na casa dos outros, mesmo quando abandonadas. Aprendemos a deixarmo-nos à porta, a sermos espaço para a batida do relógio (ouve, como ele bate ainda), a medirmos a espessura do silêncio e o quebranto das paredes. O que aparenta ser passividade ou receptáculo mais não é do que abandonarmo-nos à música de um rádio antigo e deixarmo-nos tocar no mais fundo e límpido que, ainda assim, persiste. É lembrarmo-nos de nós nos outros pela mão de uma música que passa a ser nossa, como se alguém nos escondesse um segredo no fundo do coração.
Na minha casa, há-de haver sempre música, mesmo no silêncio. Deve, no entanto, ser ouvida com algum cuidado – os segredos esboroam-se com tanta (demasiada) facilidade.          

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Of instruction which does not become life

Modern man... has become a strolling spectator and has arrived at a condition in which even great wars and revolutions are able to influence him for hardly more than a moment... Thus the individual grows fainthearted and unsure and dares no longer believe in himself: he sinks into his own subjective depths, which here means into the accumulated lumber of what he has learned but which has no outward effect, of instruction which does not become life. 

Friedrich Nietzsche, Untimely Meditations (1876: só o emprego do masculino está desactualizado, porque o argumento...)

quarta-feira, 30 de março de 2011


To love makes one solitary, she thought.

Virginia Woolf, Mrs Dalloway

Foto: Virginia Woolf , usando um vestido da sua mãe

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A fundo perdido

When two people fall in love, and begin to feel that they are made for one another, then it is time for them to break off, for by going on they have everything to lose and nothing to gain.
Søren Kierkegaard