segunda-feira, 14 de março de 2011

Escrevo solo e digo nuvem

O rosto enfiado na terra
escrevo solo e digo nuvem.
Solo & subsolo, conluio
amoroso de asas e raízes.

O silêncio conspira,
até a viração da tarde
cessou. Já mal suspira.
Escrevo solo e o peito arde.

O rosto guardado na terra,
nada me lembra ou esquece.
Escrevo solo. Sombra
entre sombras, o dia amanhece.

Manhã de maio semeia,
não choro nem sinto.
Digo nada – acorde esvaído
num sonho indistinto.

O rosto abrigado na terra,
mal sei do lamento das folhas.
Mal sei, mal sim, mal não:
não sei onde abrigar o coração.

Carlos Felipe Moisés, “Sombra”

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