Suzy Lee, Shadow (2010)
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
domingo, 15 de janeiro de 2012
A nossa casa
A nossa casa era feita de corredores azuis.
Ao centro uma fonte, robusta e fértil,
como uma folha metálica de Gaudí.
Como era sublime, aquela nossa
escadaria em corte de rebuçado.
Como a subi de um golpe só, os
pés quebrando-se em cada degrau,
cega às paredes pintadas de barba azul.
Como passei a carregar nas mãos
todas as nuvens dobadas num novelo escuro,
os cabelos caídos sobre as entranhas
dos caminhos. A nossa casa era feita
de árvores mudas, a minha respiração
cortada à faca pela agudeza
de uma concha que cai
seca no chão
num baque sólido de pássaro abatido.
A nossa casa era feita de corredores azuis.
A porta já não se abre às constelações.
Ouvem-se agora, cada vez mais perto,
os passos da noite (fria), contados
pelos minutos de uma solidão óssea.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Coco Chanel & Igor Stravinsky (& Katarina)
Katarina é a tradição. Os seus vestidos carregam a memória de uma Rússia czarista e faustosa cujo orgulho espreita por entre os xailes garridos que pendura nas paredes da casa de Mlle. Chanel, desafiando-lhe(s) a frieza minimalista.
Katarina surge-nos fraca e macilenta, consumida pela tuberculose e pela relação adúltera entre Igor e Chanel que desponta, sem qualquer pudor, à sua frente. Vemo-la definhar lentamente, sob o peso da sua doença e da sua dor, tão distante da mulher-espada cuja criatividade a torna tão tentadoramente compatível com Igor.
O resultado deste duelo – entre Chanel, esguia e fulminante, e Katarina, tísica e esbranquiçada – é no entanto surpreendente. Recusando-lhe os presentes e não se deixando coleccionar, Katarina e o seu silêncio mais não fazem do que desafiar o poder que Chanel julga ter. Ainda assim, é a dignidade com que suporta o fascínio mútuo entre Igor e Chanel que faz de Katarina a verdadeira vencedora. Seria tão simples colocá-la na margem e assistir, sem peias, àquela união cósmica entre criadores colossais, mas a sua serena resistência dificulta a simpatia que normalmente se nutre pelos amores ilícitos. Mais do que um entrave, Katarina é um desassossego.
Ainda que Chanel se declare imune à doença que Igor provocou na sua esposa, é ela quem no final esmorece ao som da memória de um amor que nunca o chegou a ser. Katarina já lá não está, mas continua ali em contraponto: ambas independentes, de forma desigual, ambas fortes, em diferentes frentes, ambas simultaneamente consumidas e fortalecidas pela dependência de Igor.
Jan Kounen, Coco Chanel & Igor Stravinsky (2009)
domingo, 1 de janeiro de 2012
New Year's Resolution #1
"A little like writing or loving someone - it doesn't always feel worthwhile, but not giving up somehow creates unexpected meaning over time."
Miranda July, It Chooses You
Subscrever:
Mensagens (Atom)