sexta-feira, 27 de abril de 2012

(Os pés lêem uma odisseia de rastos e ruminações)
As folhas esquecem-se das árvores
esquecem-se
fogem das árvores
esquecem-se
rugem no chão. Mariposas
dobradas em árvore
esquecem-se das folhas
rugem
fogem do chão
esquecem-se
rugem nas árvores
fogem
esquecem-se do chão
esquecem-se

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Shelf life

Naquele dia, era pouco
o ar que se respirava
nas veias. Um limite de vozes,
sobejo freático de cores e de cifras,
recortava microscópicas raízes
de cordel. Um limite, o cheiro
dos anos. Por vezes,
eram as velas, estanques e verticais,
que articulavam gestos e sinapses.
Eram estas as letras, o ritmo seco
rasgando e quebrando a frescura
do papel. Sem a mágoa do orvalho,
renovava as simetrias do tempo
nas prateleiras e nas paredes
que gemiam a água da tua pele,
as cinzas que se libertavam do meu lápis.