Toni Morrison
quarta-feira, 20 de junho de 2012
But we do language
"We die. That may be the meaning of life. But we do language. That may be the measure of our lives."
sexta-feira, 15 de junho de 2012
domingo, 27 de maio de 2012
quinta-feira, 24 de maio de 2012
E depois do FMI, Troikas, et al. (?)
"When the water has receded most things have lost their form. They lean in the direction the current went. Mud covers them."
William Carlos Williams, Paterson
a figura parece
uma gota
em cada instante
a gota está
numa sequência de
imagens
a cair de uma
estalactite
em cada instante
a gota está
numa posição que
compensa
o equilíbrio dos
anjos
em cada instante
a gota compensa
a tensão
superficial
até que esta
se desprende
e
“O ponto onde se
juntam os vincos é uma singularidade que, por ser uma estrutura musculosa,
facilita a sua dispersão pelo vento. Excede o número máximo de singularidades.
Deforma a figura.”
a gota é
uma superfície
de revolução
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Etymology gone m/bad
Les dents, la
bouche
Les dents la
bouchent
L’aidant la
bouche
L’aide en la
bouche
Laides en la
bouche
Laid en la bouche
Lait dans la
bouche
L’est dam le à
bouche
Les dents-là
bouche
Jean-Pierre Brisset (1837-1923)
quarta-feira, 2 de maio de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
“Numa altura em que ainda não havia flores”
O tempo que veio
antes
rejeita beber
água.
As cinzas – uma
aquisição recente
da evolução (a
que os pinheiros
pertencem) –
viam mais
numa altura
em que ainda
não havia flores.
Desenterrou-se
uma ilha cristalizada
pelas cinzas. O
tempo
que veio depois
libertava esporos
e árvores mais
finas,
plantas sem
flores
que faziam lembrar
o tempo
transformado
em carvão.
Há um estrato de
penas
com porte de
árvore,
retrato detalhado
com mais água
de fetos
arbóreos.
Mas a cinza,
numa altura em
que
ressuscitaram os
anos,
é tectónica e
semelhante:
uma aquisição
fossilizada
no interior da
Terra.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Shelf life
Naquele dia, era pouco
o ar que se respirava
nas veias. Um limite de vozes,
sobejo freático de cores e de cifras,
recortava microscópicas raízes
de cordel. Um limite, o cheiro
dos anos. Por vezes,
eram as velas, estanques e verticais,
que articulavam gestos e sinapses.
Eram estas as letras, o ritmo seco
rasgando e quebrando a frescura
do papel. Sem a mágoa do orvalho,
renovava as simetrias do tempo
nas prateleiras e nas paredes
que gemiam a água da tua pele,
as cinzas que se libertavam do meu lápis.
quinta-feira, 29 de março de 2012
One Kind of Terror: A Love Poem
. . .
I’m the sole author of nothing
the book moves from field to field
of testimony recording
how the wounded teach each other
. . .
I’m the sole author of nothing
the book moves from field to field
of testimony recording
how the wounded teach each other
. . .
Adrienne Rich (1929 - 2012)
quinta-feira, 22 de março de 2012
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Un’en’en
Lâminas de pedra e restos
de três mil anos
feitos de pedra.
cenas esculpidas
(partidas) com arpões.
desenhos às camadas:
uma herança natural
parecida com uma casa.
a mais antiga evidência
― crânios, ossos, barbas ―
são barcos numa comunidade
a partilhar carne por carbono.
mil anos para trás
e apenas um marfim complexo
camadas de terra
como um livro aberto
domingo, 19 de fevereiro de 2012
No canto dos olhos
encontrar uma facilidade
na música. as árvores.
homem. mãe. cavalo.
é assim que eles pensam:
os nossos olhos
moem carne.
é preciso o poema
no canto dos olhos.
não é indispensável.
― à janela
uma calçada de açucenas
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
domingo, 15 de janeiro de 2012
A nossa casa
A nossa casa era feita de corredores azuis.
Ao centro uma fonte, robusta e fértil,
como uma folha metálica de Gaudí.
Como era sublime, aquela nossa
escadaria em corte de rebuçado.
Como a subi de um golpe só, os
pés quebrando-se em cada degrau,
cega às paredes pintadas de barba azul.
Como passei a carregar nas mãos
todas as nuvens dobadas num novelo escuro,
os cabelos caídos sobre as entranhas
dos caminhos. A nossa casa era feita
de árvores mudas, a minha respiração
cortada à faca pela agudeza
de uma concha que cai
seca no chão
num baque sólido de pássaro abatido.
A nossa casa era feita de corredores azuis.
A porta já não se abre às constelações.
Ouvem-se agora, cada vez mais perto,
os passos da noite (fria), contados
pelos minutos de uma solidão óssea.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Coco Chanel & Igor Stravinsky (& Katarina)
Katarina é a tradição. Os seus vestidos carregam a memória de uma Rússia czarista e faustosa cujo orgulho espreita por entre os xailes garridos que pendura nas paredes da casa de Mlle. Chanel, desafiando-lhe(s) a frieza minimalista.
Katarina surge-nos fraca e macilenta, consumida pela tuberculose e pela relação adúltera entre Igor e Chanel que desponta, sem qualquer pudor, à sua frente. Vemo-la definhar lentamente, sob o peso da sua doença e da sua dor, tão distante da mulher-espada cuja criatividade a torna tão tentadoramente compatível com Igor.
O resultado deste duelo – entre Chanel, esguia e fulminante, e Katarina, tísica e esbranquiçada – é no entanto surpreendente. Recusando-lhe os presentes e não se deixando coleccionar, Katarina e o seu silêncio mais não fazem do que desafiar o poder que Chanel julga ter. Ainda assim, é a dignidade com que suporta o fascínio mútuo entre Igor e Chanel que faz de Katarina a verdadeira vencedora. Seria tão simples colocá-la na margem e assistir, sem peias, àquela união cósmica entre criadores colossais, mas a sua serena resistência dificulta a simpatia que normalmente se nutre pelos amores ilícitos. Mais do que um entrave, Katarina é um desassossego.
Ainda que Chanel se declare imune à doença que Igor provocou na sua esposa, é ela quem no final esmorece ao som da memória de um amor que nunca o chegou a ser. Katarina já lá não está, mas continua ali em contraponto: ambas independentes, de forma desigual, ambas fortes, em diferentes frentes, ambas simultaneamente consumidas e fortalecidas pela dependência de Igor.
Jan Kounen, Coco Chanel & Igor Stravinsky (2009)
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