domingo, 29 de julho de 2012

Still alive inside the sentence

Glenn used to say the reason you can't really imagine yourself being dead was that as soon as you say, "I'll be dead," you've said the word I, and so you're still alive inside the sentence. And that's how people got the idea of the immortality of the soul - it was a consequence of grammar. And so was God, because as soon as there's a past tense, there has to be a past before the past, and you keep going back in time until you get to I don't know, and that's what God is. 

Margaret Atwood, The Year of the Flood

quarta-feira, 20 de junho de 2012

But we do language

"We die. That may be the meaning of life. But we do language. That may be the measure of our lives."


Toni Morrison

sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Desire is the consciousness of a certain kind of emptiness that has to be filled."


Laurie Anderson

domingo, 27 de maio de 2012

Heart shape




"Apesar de o coração ser relativamente simples, a equação que está na sua origem é complexa."

quinta-feira, 24 de maio de 2012

E depois do FMI, Troikas, et al. (?)

"When the water has receded most things have lost their form. They lean in the direction the current went. Mud covers them."


William Carlos Williams, Paterson

Simetrias caprichosas



a figura parece
uma gota
em cada instante
a gota está
numa sequência de imagens
cair de uma estalactite
em cada instante
a gota está
numa posição que compensa
o equilíbrio dos anjos
em cada instante
a gota compensa
a tensão superficial
até que esta
se desprende
e

“O ponto onde se juntam os vincos é uma singularidade que, por ser uma estrutura musculosa, facilita a sua dispersão pelo vento. Excede o número máximo de singularidades. Deforma a figura.”

a gota é
uma superfície
de revolução

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Etymology gone m/bad


Les dents, la bouche
Les dents la bouchent
L’aidant la bouche
L’aide en la bouche
Laides en la bouche
Laid en la bouche
Lait dans la bouche
L’est dam le à bouche
Les dents-là bouche 

Jean-Pierre Brisset (1837-1923)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

terça-feira, 1 de maio de 2012

Aelita: Queen of Mars (1924)

“Numa altura em que ainda não havia flores”


O tempo que veio antes
rejeita beber água.
As cinzas – uma
aquisição recente
da evolução (a
que os pinheiros
pertencem) –
viam mais
numa altura
em que ainda
não havia flores.

Desenterrou-se
uma ilha cristalizada
pelas cinzas. O tempo
que veio depois
libertava esporos
e árvores mais finas,
plantas sem flores
que faziam lembrar
o tempo transformado
em carvão.

Há um estrato de penas
com porte de árvore,
retrato detalhado
com mais água
de fetos arbóreos.
Mas a cinza,
numa altura em que
ressuscitaram os anos,
é tectónica e semelhante:
uma aquisição fossilizada
no interior da Terra.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

(Os pés lêem uma odisseia de rastos e ruminações)
As folhas esquecem-se das árvores
esquecem-se
fogem das árvores
esquecem-se
rugem no chão. Mariposas
dobradas em árvore
esquecem-se das folhas
rugem
fogem do chão
esquecem-se
rugem nas árvores
fogem
esquecem-se do chão
esquecem-se

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Shelf life

Naquele dia, era pouco
o ar que se respirava
nas veias. Um limite de vozes,
sobejo freático de cores e de cifras,
recortava microscópicas raízes
de cordel. Um limite, o cheiro
dos anos. Por vezes,
eram as velas, estanques e verticais,
que articulavam gestos e sinapses.
Eram estas as letras, o ritmo seco
rasgando e quebrando a frescura
do papel. Sem a mágoa do orvalho,
renovava as simetrias do tempo
nas prateleiras e nas paredes
que gemiam a água da tua pele,
as cinzas que se libertavam do meu lápis.

quinta-feira, 29 de março de 2012

One Kind of Terror: A Love Poem

. . . 
I’m the sole author of nothing
the book moves from field to field


of testimony      recording
how the wounded teach each other 
. . . 


Adrienne Rich (1929 - 2012)

quinta-feira, 22 de março de 2012

In the middle of the beginning

Miranda July, It Chooses You 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Un’en’en


Lâminas de pedra e restos
de três mil anos
feitos de pedra.

cenas esculpidas
(partidas) com arpões.

desenhos às camadas:
uma herança natural
parecida com uma casa.

a mais antiga evidência
― crânios, ossos, barbas ―
são barcos numa comunidade
a partilhar carne por carbono.

mil anos para trás
e apenas um marfim complexo
camadas de terra
como um livro aberto

domingo, 19 de fevereiro de 2012

No canto dos olhos

encontrar uma facilidade
na música. as árvores.
homem. mãe. cavalo.
é assim que eles pensam:
os nossos olhos
moem carne.
é preciso o poema
no canto dos olhos.
não é indispensável.
― à janela
uma calçada de açucenas 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Shadow


Suzy Lee, Shadow (2010)

domingo, 15 de janeiro de 2012

A nossa casa

A nossa casa era feita de corredores azuis.
Ao centro uma fonte, robusta e fértil,
como uma folha metálica de Gaudí.
Como era sublime, aquela nossa
escadaria em corte de rebuçado.
Como a subi de um golpe só, os
pés quebrando-se em cada degrau,
cega às paredes pintadas de barba azul.
Como passei a carregar nas mãos
todas as nuvens dobadas num novelo escuro,
os cabelos caídos sobre as entranhas
dos caminhos. A nossa casa era feita 
de árvores mudas, a minha respiração
cortada à faca pela agudeza
de uma concha que cai 
seca no chão
num baque sólido de pássaro abatido.
A nossa casa era feita de corredores azuis.
A porta já não se abre às constelações.
Ouvem-se agora, cada vez mais perto,
os passos da noite (fria), contados
pelos minutos de uma solidão óssea.