O rosto enfiado na terra
escrevo solo e digo nuvem.
Solo & subsolo, conluio
amoroso de asas e raízes.
O silêncio conspira,
até a viração da tarde
cessou. Já mal suspira.
Escrevo solo e o peito arde.
O rosto guardado na terra,
nada me lembra ou esquece.
Escrevo solo. Sombra
entre sombras, o dia amanhece.
Manhã de maio semeia,
não choro nem sinto.
Digo nada – acorde esvaído
num sonho indistinto.
O rosto abrigado na terra,
mal sei do lamento das folhas.
Mal sei, mal sim, mal não:
não sei onde abrigar o coração.
Carlos Felipe Moisés, “Sombra”